ACESSE

sábado, 12 de março de 2011

A tradição das Louceiras do sertão


Dona Paz, 60 anos, é um louceira do Sítio Cajueiro, Itapipoca, CE, que mantém o conhecimento da arte de fazer artefatos cerâmicos (pote, louças, panelas). Aprendeu essa arte com sua avó, ainda quando morava no Sítio Mala, local onde extraia a argila. Hoje já não tem para quem repassar essa tradição. Em visita a sua residência nas proximidades da Lagoa do Inácio registramos alguns utensílios confeccionados por Dona Paz. Uma técnica interessante do escovado da cerâmica foi observada: a técnica de utilização de uma espiga de milho como instrumento para escovar a cerâmica.

Dona Raimunda Cardoso dos Santos, 58 anos, aprendeu com a falecida avó Dona Anunciada, a técnica de manufatura de utensílios de barro. Tratava-se de uma antiga tradição da localidade do Sítio São Joaquim em Barbalha, CE. Essa técnica era utilizada por muitas mulheres de seu tempo de mocidade. A matéria prima era adquirida nas proximidades, no local denominado Massapê.

Segundo D. Raimunda, hoje em dia “as pessoas não valorizam mais as louças de barro, que estão sendo trocadas por outros costumes da cidade”. Da prática de “louceira”, como era chamado essas mulheres, Dona Raimunda guarda apenas alguns utensílios para uso doméstico. Mesmo assim, quando a  equipe de arqueologia da Fundação Casa Grande no final da prospecção, retornou à sua residência para se despedir, D. Raimunda havia confeccionado um pequena panelinha de barro, para nos comprovar suas habilidades.

Encontra-se a origem dessa tradição das louceiras nos achados de utensílios cerâmicos pré históricos encontrados em todo o Estado do Ceará. No Cariri, no próprio sítio massapê, há registros de material cerâmico indígena já identificado na área. Alguns desses utensílios compõe o acervo do Memorial do Homem kariri, em Nova Olinda, Ce.

Pote de cerâmica com técnica de escovado feito por Dona Paz. 




Dona Paz no interior de sua residência.





Dona Raimunda


Dona Raimunda e Rosiane Limaverde
Cerâmica Pré-histórica- Sítio Massapê, acervo do Memorial do Homem Kariri




sexta-feira, 4 de março de 2011

Arqueologia e o prisma das crianças do Memorial do Homem Kariri

As crianças chegam ao Memorial do Homem Kariri, inicialmente só para brincar, pois na sua entrada há um grande terreiro, como nas casas do sertão. É brincar de roda, de pião, de bila (bola de gude), de amarelinha. Descobrem através de outras crianças protagonistas no espaço que aquela casa azul faz parte de uma história e de uma memória. A oralidade e musicalidade dos mitos e lendas regionais nas vozes das crianças têm aí uma importância fundamental no cativar da infância, pois os mitos povoaram desde sempre a infância dos povos. Nessa trajetória do encontro das crianças com o Memorial do Homem Kariri, o mito torna-se uma história verdadeira e extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo, pois com diz Eliade ( 2004) a principal função do mito consiste em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas: tanto a alimentação, quanto o casamento, quanto o trabalho, a educação, a arte ou a sabedoria.

Depois do encontro com o intangível, as crianças percebem o valor simbólico na materialidade dos objetos pré-históricos do acervo arqueológico do Memorial do Homem kariri e no contar e recontar das histórias, se tornam os pequenos condutores e transmissores não apenas das crianças iniciantes, mas da comunidade e dos visitantes que chegam anualmente ao numero de 33 mil atendimentos, proporcionando ao Município a alternativa de desenvolvimento através do Turismo Social de Base Comunitária.
Foto: Renato Steckler

Foto: Fundação Casa Grande

Foto: Renato Steckler

Foto: Fundação Casa Grande